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segunda-feira, 11 de julho de 2016

                       A História de Uma Vida

A casa era simples, com cobertura de sapé e rodeada de grandes pedras, de onde jorrava água pura e cristalina, devidamente direcionada dentro de bambus em forma de calha que iam até a casa, facilitando assim as tarefas diárias de Vô Simplício.
Junto à pequena horta, alguams árvores frutíferas serviam de abrigo a sabiás, canários e sanhaços, que enchiam aquela manhã de vida e harmonia.
- Que você quer na casa deste velho, alma boa? – Dirigiu-se a mim de forma natural e sincera.
- Bom dia. Que a paz de Deus esteja com o senhor! – respondi, ainda surpreso por minha presença ter sido notada com tanta facilidade.
- Que assim seja, meu filho. Que pode este velho fazer por você?
- Eu escrevo histórias, senhor Simplício, e venho até sua casa a pedido de Donana para lhe trazer o seu abraço e seu carinho e, aproveitando, peço ao senhor que conte a sua história para que eu possa passá-la ao papel.
- Não carece não, meu filho, a história deste velho aqui vai fazer muita gente chorar, mas se foi Donana quem pediu... Assente aqui neste toco enquanto faço um café e melhoro o fogo que o dia vai ser longo e nós vamos varar a noite. Este preto aqui não nasceu na senzala não, alguns negros tinham fugido e me levaram junto, só que dentro da barriga de minha mãe. Nasci lá pelas matas e quando tinha três meses a mãe voltou pro céu. Os negros do quilombo não queriam trabalho não; aí, me pegaram e colocaram na roça pra poder ser encontrado por outros! E fui, meu filho. Cresci, virei rapazola e casei com Donana, rapariga prendada, alma majestosa que trabalhava na cozinha da casa-grande. Donana me deu dois filhos, pra minha alegria, mas Deus achou melhor que eles não vivessem comigo não! Por malquerença de Sinhá Velha, Donana e as crianças foram trocadas por um lote de dez vacas parideiras. A dor, meu filho, foi tão grande, que fiquei aluado por muito tempo; então, sinhozinho mandou me trancar no paiol velho que ficava bem longe da casa-grande e colocou Mãe Perpetua, uma preta velha, ruim das vistas e descadeirada, pra morar na casa do paiol e tratar de mim até melhorar. Mãe Perpétua trazia todo o dia a comida e passava pelo buraco da parede. Eu estava com dezoito anos de vida e eles esqueceram de mim lá trancado por dez anos. Então, meu filho, foi quando aprendi as rezas pra curar doença ruim e pra afastar encosto de alma penada. No escuro, meu filho, aprendi a ver as almas, boas e ruins. Tudo isso foi Mãe Perpétua que ensinou pra este que lhe fala. Uma noite, meu filho, uma alma boa clareou o mundo deste velho e o paiol ficou iluminado que nem dia. Era Donana que vinha se despedir, pois o maltrato no trabalho duro fizeram ela adoecer e largar o corpo nesta terra. E ela me falou:
- Simplício, meu querido, alma de minha alma, não vim despedir-me de você não! Largo essa terra com muita dor no meu peito, mas não carrego rancor. Nossos filhos estão pelo mundo, nunca mais vi nenhum deles. Os protetores que vieram me buscar explicaram que nós dois, noutra vida, fomos Sinhô e Sinhá, e que hoje nós voltamos para pagar as contas dos erros, pois não éramos “flor que se cheira”.
- Me leve com você, alma de Donana, não me deixe trancado aqui mais não!
- Olhe, meu velho, você ficou trancado aí pra amolecer seu coração e aprender com Mãe Perpétua tudo o que você aprendeu. Nós vamos ficar juntos, mas você aí e eu aqui pra lhe ajudar, pois você  ainda vai viver muito nessa terra. Estão falando comigo que não está longe o dia  de você sair dessa prisão não! Hoje Mãe Perpétua não vai trazer o de comer, porque nós viemos aqui também pra buscá-la, ela já está com o tempo vencido na Terra. Ajoelhe, alma irmã da minha alma, vamos rezar pra Deus Nosso Senhor e agradecer a ele, pois já pagamos muitos dos nossos pecados! E no mais tardar em três dias você vai tomar sol direito. Os escravos já estão libertos, quase não há mais negro na corrente.
Então, ela ajoelhou-se junto de mim, colocou a mão na minha cabeça e rezou a oração mais bonita que já ouvi. E de tanto chorar acabei desmaiando! A barriga já estava doendo de fome e sede. Donana falou três dias e já estava fazendo três dias que eu não comia nem bebia, quando ouvi um tropel de cavalo chegando perto do paiol e então gritei: “Socorro pelo amor de Nosso Senhor Jesus Cristo”. E pelo buraco da porta vi um moleque de maios ou menos dez anos montado em um cavalo sem arreios, que, de susto, partiu a galope pra depois voltar com três negros. Eles foram chegando devagar até ter certeza de que eu não era nenhuma alma penada e só então eles arrebentaram as correntes e me deram liberdade. Fiquei tanto tempo preso, meu filho, que desaprendi a lidar na roça e nem ordenhar vaca eu sabia mais! Então, meu filho, resolvi fazer aquilo que sabia e tinha aprendido naqueles anos todos de prisão. Tudo que Mãe Perpétua me ensinou e mais o que aprendi sozinho ia usar pra ajudar os outros. Então, subi a serra até o alto e encontrei este lugar aqui, onde, com a bênção de Deus e ajuda de Donana, junto com outras almas boas, vivo até hoje, livre da cadeia, mas preso às coisas da terra, onde ainda tenho muita conta pra pagar! Olha, alma boa, eu nem perguntei sua graça. 
- É Cornélio, meu bom velho, um seu criado.
- É melhor você colocar aí no papel que este velho nunca mais casou e que meus filhos ainda estão pelo mundo, mas não sofrem igual ao pai e a mãe deles não! Escreve também que Donana vem me visitar quase todo dia. Ela ajuda os que morrem e traz as almas deles pra descansar neste casebre antes de seguir viagem. Se acomode por aí, seu Cornélio, que este velho aqui já não aguenta mais segurar os olhos abertos.
Nesse momento, preferi me retirar e permitir ao bom velho a liberdade da intimidade de seu lar. (Espírito Cornélio Pires-Histórias Divertidas do Vô Simplício-Alceu C.Filho)

sexta-feira, 18 de março de 2016

               Páscoa 2016

Estamos mais uma vez às voltas com comemorações ou eventos atinentes ao massacre do Cristo ocorrido há cerca de dois mil anos, num período em que os judeus denominavam ‘Páscoa’, ou seja, em que eles comemoravam a libertação do cativeiro egípcio.
E o massacre de Jesus deu-se justamente neste período comemorativo dos judeus, sendo que, alguns séculos depois, a denominada ‘Igreja’ passou a chamar de “semana santa”.  E, a partir daí, surgiram celebrações e proibições, que os seguidores desta ‘Igreja’, que dominava o mundo ocidental, foram obrigados a observar. Os poucos que ousaram questionar os dogmas e determinações da Igreja, a partir da Idade Média, tiveram como destino as fogueiras da chamada ‘santa inquisição’, pagando com a vida o seu atrevimento.
E o tempo passou. Chegamos ao século 21 e as posturas e dramatizações são praticamente as mesmas pelos seguidores desta religião e até por aqueles que seguem outras denominações religiosas, sob sua influência, numa flagrante demonstração de escravidão psíquica que ultrapassa os séculos.
Muitas pessoas ainda hoje agem cegamente sem questionar, por exemplo, por que são obrigadas a comer peixe na tal sexta-feira, dita ‘santa’. Todo o ano é a mesma coisa. O peixe tem o preço elevado neste período justamente porque as pessoas, nos ditos países cristãos, correm atrás dele. Ninguém pode ficar sem comê-lo, tal é a introjeção das determinações da Igreja dominadora no passado. E aquela famosa lei (oferta e procura) sempre entra em ação e os oportunistas não se fazem de rogados, aproveitando-se dessa dita ‘tradição’, como acontecia no Pátio dos Gentios, no Templo de Jerusalém, com o comércio das ‘coisas santas’.
E o coelhinho? E os ovos de chocolate? O que tem tudo isso a ver com Jesus?
Com certeza, nada.
Explicações infundadas encontram-se em pencas. No entanto, nenhuma que tenha algum fundamento sério. Os homens foram inventando coisas, arranjando explicações que nem as crianças dos dias atuais acreditam, chegando ao ponto de deturparem a grandiosa missão de Jesus, que veio trazer a “Boa Nova” à Terra. A essência da mensagem foi esquecida, dando-se preferência a questões que nada acrescentam, que iludem, atrapalham e que até geram culpa em muitos, como se todos fôssemos responsáveis pelo massacre perpetrado há mais de dois milênios.
Mas tudo isso ficou para trás. O que importa é a mensagem do Enviado Celeste.
O Cristo veio esclarecer-nos sobre o que somos, sobre as nossas mazelas e o modo de modificarmos as causas dos nossos sofrimentos. Falou da importância da caridade, ou seja, o que tem real valor para Deus. Ensinou que a vida continua fora da Terra e que existem outras moradas. Mostrou que o Ser Supremo é um Pai Amoroso, que só quer a nossa felicidade.
Tendo em vista que todo o ano é a mesma coisa, com enfoque negativo sobre a figura do Cristo e de Judas, repetindo dramatizações e posturas religiosas contraditórias, sem levar em consideração os ensinos do próprio Embaixador Celeste, trazemos aos leitores a visão Espírita sobre tal acontecimento, de modo a termos uma panorâmica bem mais ampla, sob a orientação dos Espíritos Superiores, que realizam a vontade de Deus em todo o Universo.
Assim, nossa preocupação, neste mês de março, em que novamente estamos voltados para a comemoração denominada de ‘Páscoa’, que os judeus comemoravam por outro motivo, mas que hoje, infelizmente, muitas pessoas continuam preocupadas em comer peixe e muito chocolate, esquecendo a essência dos ensinos do Enviado Celeste, numa flagrante distorção do seu significado original.

Pois, naquela comemoração judaica, há dois mil anos, Jesus vinha sendo investigado por judeus e romanos em virtude de que suas ideias, bem diferentes, estarem sendo disseminadas por toda a Palestina e países vizinhos, chegando até Roma, sede do império romano.
Tudo estava armado para aquele período. O próprio Cristo, que é um Espírito Superior, avisava para seus seguidores, mas eles não queriam acreditar. Dizia que seria morto, mas que voltaria no terceiro dia.
Assim, tudo ocorreu como ele avisara. Jesus foi preso e rapidamente condenado, pois os sacerdotes judeus queriam se livrar dele o quanto antes, pois, ele era uma ameaça às suas posições cheias de regalias, vivendo às custas do povo. Mataram o homem, mas não mataram suas ideias, que permaneceram pelos milênios a fora.
Contudo, o mais importante já estava feito: Ele deixara um ensino que se perpetuaria pelos milênios a frente.
Após consumada sua morte, Jesus demonstrou, cabalmente, à Humanidade, que ninguém morre e que a vida continua plena em outras dimensões. Reapareceu no domingo, no terceiro dia, e materializou-se por cerca de 40 dias em várias oportunidades, junto aos apóstolos.
Mas nem tudo fluiu com naturalidade aqui na Terra após seu retorno ao Mundo Espiritual. Os homens, por estarem num nível evolutivo ainda baixo, juntamente com Espíritos inferiores que pululam ao redor do planeta, fizeram o possível para apagar, distorcer e obnubilar a mensagem do Cristo. Para tanto, fundaram uma religião aos moldes de um império, dizendo-se representantes do Cristo na Terra, com muita riqueza e poder, e passaram a dominar os povos onde puderam penetrar os seus tentáculos, destruindo quem não se dobrasse aos seus dogmas.
Desse modo, foram dezoito séculos de total ignorância do real motivo da estada do Cristo aqui na Terra. Embora fosse necessário que o homem evoluísse um pouco mais, para então poder assimilar com profundidade os ensinos que foram ministrados pelo Enviado Celeste, a Humanidade terrestre passou por um longo período de obscurantismo, com perseguições e com as chamadas ‘guerras religiosas’, num verdadeiro período de trevas.
Mas, graças a Deus, evoluímos. Não fomos criados para ficarmos estagnados. Aos poucos, fomos nos conscientizando de quem realmente é Jesus, e quem somos.  A partir do século 19, passamos a ter a maravilhosa contribuição dos Espíritos mais elevados, com uma visão bem diferente das ideias distorcidas e ultrapassadas que perduraram por cerca de dezoito séculos, e, totalmente  contrárias as que o próprio Cristo legou-nos nos Seus ensinos relatados por várias pessoas, nos vários evangelhos, alguns ditos oficiais (escolhidos e adulterados pela Igreja), além de muitos outros denominados de apócrifos, com informações preciosas, mas que foram descartadas por esta mesma igreja.
Acreditamos que, nos dias atuais, muitas pessoas afastaram-se da Igreja dominadora e de outras, haja vista que estas perderam o seu poder de vida e de morte sobre a Humanidade, graças à evolução do pensamento humano, deixando, para muitos, a herança dos seus dogmas introjetados, gerando, portanto, muitos desequilíbrios e traumas que perduram há séculos.
Luiz Alberto Cunha da Silva

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segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

                                         ZIKA VÍRUS E O ABORTO
Segue a nota da Associação dos Médicos Espíritas sobre zika vírus e o aborto:
Os que defendem a legalização do aborto encontraram na associação do aumento da  microcefalia com o surto de zika vírus uma oportunidade para retomar a discussão da liberação do aborto no Brasil.
Recentemente foi noticiado que grupo liderado pela Débora Diniz, do instituto de bioética Anis, prepara uma ação no STF para a liberação do aborto em casos de microcefalia. É o mesmo grupo que propôs a ação para interrupção da gravidez de anencéfalos, acatada pelo STF em 2012.
A bióloga e feminista Ilana Löwy, numa entrevista para a Revista ÉPOCA, vê no surto de zika vírus uma oportunidade para se debater o direito de decisão da mulher de ter ou não o bebê, como aconteceu com a epidemia de rubéola no Reino Unido. Interessante é que a Rubéola hoje em dia é uma doença totalmente controlável e passível de prevenção através da vacinação, deixando de ser um risco epidêmico, usado como justificativa para a liberação do aborto na Europa.
Os argumentos utilizados se baseiam na liberdade da mulher poder escolher o que é melhor para si, esquecendo que existe uma vida a qual se está negando o primeiro e mais fundamental dos direitos humanos, o direito à vida.
Cabe ressaltar que os fundamentos utilizados para liberar o aborto dos fetos anencéfalos não se aplicam nesses casos. O diagnóstico da microcefalia é tardio, em torno da 28ª semana, diferentemente da anencefalia, que é feito a partir da 12ª semana de gestação. As lesões da microcefalia geralmente aparecem na ultrassonografia depois da 24ª e não são incompatíveis com vida, como nos casos de anencefalia.
Além disso, o diagnóstico ecográfico de lesão neurológica não é 100% seguro, já que depende da análise de um profissional passível de equívocos. Existem inúmeros relatos de erros em fetos com diagnóstico de malformações neurológicas e que nasceram perfeitamente normais. No entanto, os que argumentam em favor do aborto querem transformar o diagnóstico de microcefalia em atestado de morte para todas as crianças das mães que contraíram o zika vírus e que optarem pela interrupção da gravidez, mesmo com possibilidades de nascerem normais ou com poucas sequelas neurológicas.
Com o avanço da medicina fetal e da genética médica, hoje é possível a detecção, ainda no útero, de várias anomalias fetais. Diversas técnicas como ultrassom morfológico, ultrassom de terceira dimensão, a biópsia de vilos coriais, a amniocentese, a cordocentese, o desenvolvimento da técnica citogenética molecular permitem o diagnóstico  intrauterino de várias doenças. O diagnóstico permite iniciar o tratamento antes do nascimento, como cirurgias intrauterinas para correções de más-formações, assim como a preparação psicológica dos pais para o enfrentamento das graves anomalias.
Querer selecionar apenas as crianças saudáveis com direito à vida é retomar a prática da eugenia feita na Grécia antiga e pelo nazismo, abrindo um precedente para a liberação do aborto em outros casos de microcefalia como as causadas por hipóxia neonatal, desnutrição grave na gestação, fenilcetonúria materna, rubéola congênita na gravidez, toxoplasmose congênita na gravidez, infecção congênita por citomegalovírus ou em doenças genéticas como Síndrome de Down, Síndrome de Cornelia de Lange, Síndrome Cri du Chat, Síndrome de Rubinstein – Taybi, Síndrome de Seckel, Síndrome de Smith-Lemli–Opitz e Síndrome de Edwards.
Nesses casos, pessoas como Ana Carolina Dias Cáceres, moradora de Campo Grande (MS), hoje com 24 anos e formada em jornalismo, e tantas outras crianças em situações parecidas, não teriam direito à vida. Ao saber da iniciativa de alguns em defender o aborto de fetos com microcefalia, Ana Cáceres veio a público dar seu depoimento à BBC do Brasil em defesa dos portadores de microcefalia.
Nos casos microcefalia não se pode falar na opção de abortamento, pois não se trata de patologia letal que inviabilize a vida extrauterina. Embora as limitações que possam surgir, a expectativa de vida das crianças com microcefalia não são diferentes das outras crianças, exigindo, no entanto, estimulação e cuidados especiais para melhorar a sua qualidade de vida.
A discussão do aborto em casos de microcefalia retrata bem o momento pós-moderno em que vivemos, o que Bauman, um dos maiores pensadores da atualidade, chama de modernidade líquida. Na modernidade líquida os indivíduos não possuem mais padrões de referência, nem códigos sociais e culturais que lhes possibilitem, ao mesmo tempo, construir sua vida e se inserir dentro das condições de classe e cidadão. A modernidade líquida trouxe descentramento do homem, do sujeito, produzindo identidades híbridas, locais e globais, efêmeras sobre tudo. É a cultura do efêmero, da destruição criativa, “tudo que é sólido desmancha no ar” na imagem trazida por Berman.
Para a maioria dos autores, a pós-modernidade é marcada como a época das incertezas, das fragmentações, do narcisismo, da troca de valores, do vazio, do niilismo, da deserção, do imediatismo, da efemeridade, do hedonismo, da substituição da ética pela estética, da apatia, do consumo de sensações e do fim dos grandes discursos.
A educação recebida dos pais e das escolas, os valores morais que orientam as boas relações sociais, o fortalecimento da família e a busca do bem comum está perdendo espaço para novas formas de comportamento regidas pelas leis do mercado, do consumo e do espetáculo. Existe uma crise de valores com perda de referenciais importantes em detrimento de uma vida superficial e de um discurso liberal. Na sociedade pós-moderna predomina o ter acima do ser, o prazer pelo prazer, o prazer acima de tudo, a permissividade que justifica que tudo é bom desde que me sinta bem, o relativismo no qual não há nada absoluto, nada totalmente bom ou mau e as verdades são oscilantes, o consumismo, se vive para consumir, e o niilismo caracterizado pela subjetividade, a paixão pelo nada, numa indiferença assustadora.
Renata Araújo descreve muito bem o sujeito pós-moderno: “A pós-modernidade nos apresenta um sujeito imediatista, fragmentado, narcisista, desiludido, ansioso, hedonista, deprimido, embora também informatizado, buscando independência, autonomia e defesa de seus direitos. Mas, a supervalorização e autonomia geram um individualismo, um egocentrismo, uma ênfase na subjetividade, sendo o outro apenas para a consecução de seus objetivos pessoais.” (ARAÚJO, p. 1 e 2)
Vive-se numa época de grande competitividade e de pouca solidariedade. Em nome dessa nova ideologia, os indivíduos se permitem agir passando por cima de valores fundamentais. A coisificação da vida e o predomínio dos interesses pessoais em detrimento do coletivo são bem característicos dessa fase em que vivemos. Entretanto, aprendemos com a genética que a diversidade é a nossa maior riqueza coletiva. E o feto anômalo, mesmo o portador de grave deficiência, como é o caso da microcefalia, faz parte dessa diversidade. Deve ser, portanto, preservado e respeitado. Necessário se faz proteger também a gestante, dando a ela apoio em sua gravidez e proporcionando tratamento ao seu futuro filho. Reconhecemos que a mulher que gera um feto deficiente precisa de ajuda psicológica por longo tempo; constatamos, porém, que, na prática, esse direito não lhe é assegurado.
O aborto provocado é um procedimento traumático com repercussões gravíssimas para a saúde mental da mulher e que geralmente aparecem tardiamente. O aborto produz um luto incluso devido à negação da ocorrência de uma morte real, mas esse aspecto é totalmente desconsiderado.
As mulheres sofrem uma perda e suas necessidades emocionais são relegadas ou escondidas. Elas não conseguem vivenciar o seu luto e lidar com a culpa. Esse processo vai gerar profundas marcas e favorecer o surgimento da Síndrome pós-aborto (PAS).
Psiquiatras e psicólogos especializados em atender mulheres que abortaram alertam para o aumento dos transtornos emocionais causados pelo aborto provocado. Eles afirmam que os efeitos psicológicos do aborto são extremamente variados e não são determinados pela educação recebida ou pelo credo religioso. Esclarecem que a reação psicológica ao aborto espontâneo e ao aborto involuntário é diferente, está relacionada com as características de cada um desses dois eventos. O aborto espontâneo é um evento imprevisto e involuntário, enquanto o aborto provocado interrompendo o desenvolvimento do embrião ou do feto e extraindo-o do útero materno contempla a responsabilidade consciente da mãe. As mulheres que se submeteram ao aborto afirmam que a culpa não é gerada de fora para dentro, infundida nelas por outras pessoas ou pela religião, ao contrário, ela surge e cresce em seu mundo íntimo a partir do ato abortivo.
Os problemas emocionais gerados pelo aborto são tão graves que em muitos países onde ele é legalizado foram criadas, pelas próprias mulheres vitimadas pelo aborto, associações como a Women Exploited by Abortion (Mulheres Exploradas pelo Aborto) nos EUA, e a Asociación de Víctimas del Aborto (Associação de Vítimas do Aborto) na Espanha, que orientam e alertam sobre as consequências prejudiciais do aborto.
O aborto não é definitivamente uma “solução fácil” como afirmam muitos, mas um grave problema, um ato agressivo que terá repercussões contínuas na vida da mulher.
As consequências danosas provocadas pelo aborto à saúde mental nos países onde ele foi legalizado é tão grave como a depressão profunda, que o Royal College of Psychiatrists (associação dos psiquiatras britânicos e irlandeses), alertaram que a mulher deve ser comunicada para os graves riscos emocionas que se submete caso opte pela interrupção da gravidez. Portanto, aborto nunca será uma solução, sempre um lado ou ambos serão prejudicados. Não é dando a mulher autonomia para matar seu filho dentro de seu ventre que resolveremos os problemas sociais. Isto não passa de demagogia. É necessário investir na educação das massas para prevenção da gravidez indesejada, mas jamais matar uma criança inocente. Os fins não podem justificar os meios. A sociedade que apela para o aborto declara-se falida em suas bases educacionais, porque dá guarida à violência no que ela tem de pior, que é a pena de morte para inocentes. Compromete, portanto, o seu projeto mais sagrado que é o da construção da paz.
A Associação Médico-Espírita do Brasil reitera seu posicionamento contra qualquer forma de violência a uma nova vida que não põe em risco a vida materna e que surge aguardando o auxílio de braços fortes e sensíveis que lhe ampare em sua fragilidade. Concitamos a todos os colegas das AMEs para continuarmos firmes em defesa da vida e da paz.
AME-Brasil

           Nota da AJE-Brasil sobre o vírus zika e a microcefalia
1. A AJE-Brasil (Associação Jurídico-Espírita do Brasil) posiciona-se contrariamente à proposta de se estender as hipóteses de aborto legal às mulheres grávidas infectadas pelo vírus zika, como forma de se evitar o nascimento de crianças que possam vir a sofrer de microcefalia, como vem sendo reivindicado por parcela da imprensa e da sociedade civil. E assim o faz por diversas razões:
• o aborto é contrário ao fundamental direito à vida e encontra suas excepcionais hipóteses previstas restritivamente em lei e num específico caso de construção jurisprudencial;
• a microcefalia não é incompatível com a vida, embora possa acarretar deficiências, tal como sucede em diversas outras síndromes;
• a autorização para a prática do aborto com base em mero prognóstico é medida que afronta a leitura restritiva que há de ser feita das hipóteses legais de abortamento;
• a autorização para a eliminação da vida como modo de se evitar o nascimento de criança com deficiência é medida de eugenia que contraria os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da solidariedade.
2. Por outro lado, a AJE-Brasil apela às gestantes que tenham sido infectadas com o vírus zika para que mantenham a gravidez e recebam seus filhos com amor e dedicação, ainda que acometidos de alguma deficiência.
Compreende-se a dor e a aflição da gestante e do pai diante da notícia de um possível diagnóstico de microcefalia do filho, o que lhes exigirá a superação do equívoco de que apenas as vidas perfeitas valem a pena ser vividas; e lhes despertará para o intenso amor que demanda maior dedicação e entrega à delicada criança, numa experiência de singular sensibilidade.
3. Ademais, diante do aumento de casos de crianças com microcefalia, a AJE-Brasil concita a sociedade brasileira como um todo, e os poderes públicos, em particular, a adotarem providências que garantam o necessário apoio material e moral às gestantes e seus companheiros, para que bem possam levar a termo a gravidez. E também a adotarem providências efetivas que garantam a atenção e o desenvolvimento das crianças com deficiência.
Cabe ao Poder Público, em suas três esferas de ação e de acordo com as atribuições constitucionais de competências, fortalecer, com urgência, a rede SUS para acolher as gestantes infectadas pelo vírus zika, garantindo-lhes pré-natal e parto com as especificidades inerentes a tal situação, bem como assegurando às crianças que vierem a nascer com eventuais deficiências decorrentes de microcefalia, por meio de eficiente Rede de Apoio Psicossocial, atendimento médico, psicológico, terapêutico e fonoaudiológico necessários e efetivos, a tempo e modo, de maneira a lhes assegurar, em sua máxima potencialidade possível, seu desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.
4. Por fim, a AJE-Brasil convoca os órgãos do Movimento Espírita brasileiro (entidades federativas, entidades especializadas e centros espíritas) e aos espíritas em geral, a organizarem programas e serviços assistenciais voluntários destinados ao acolhimento emocional e espiritual das gestantes que tiverem sido infectadas com o vírus zika, bem como ao pleno desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade, dos filhos que vierem a nascer com eventuais deficiências decorrentes da microcefalia.
5. A AJE-Brasil reitera sua convicção de que a defesa da vida humana – qualquer que seja sua condição física ou mental –, a empatia diante do sofrimento alheio, o acolhimento fraterno às pessoas que enfrentam dificuldades em suas trajetórias existenciais e a dedicação solidária ao próximo são lições consagradas pelo Cristianismo e adotadas pela Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, mas que caracterizam todo ser humano, independentemente de denominação religiosa ou ausência de religião, como reverência à dignidade humana e como expressão de incondicionado amor ao homem, perfeito ou não.

terça-feira, 17 de novembro de 2015


                             T E R R O R I S M O

A Hidra de Lerna, da mitologia grega, na sua insaciável sede de sangue, ressurge, na atualidade, multiplicando-se em forma do hediondo terrorismo. Os fantasmas do medo, da revolta, das lutas sem quartel, corporificam-se nas massas alucinadas gritando por vingança, sem se importar com o número de vidas que sejam estioladas, nem com as formas cruentas a que sejam submetidas.

Os direitos do homem e da mulher, dolorosamente conseguidos ao largo da História, cedem lugar ao abuso do poder desenfreado, da loucura fanática de minorias infelizes, que acendem o estopim do barril de pólvora dos ódios malcontidos.

Entre as elevadas conquistas do desenvolvimento ético e moral da Terra, destaca-se a liberdade, representada nas organizações políticas pelos regimes democráticos, veladores da honra do bem viver e deixar que os demais também o vivam. Dentre esses direitos inalienáveis, a liberdade de expressão alcançou nível superior para o comportamento humano.

Não há, portanto, limite sagrado ou profano, proibido ou permitido, dependendo, exclusivamente, do estágio do estágio intelecto-moral da sociedade e dos seus cidadãos, que optarão pelo ético, pelo saudável e pelo favorável ao desenvolvimento espiritual da Humanidade. Sofista por excelência e ético na sua essência, Sócrates defendia a liberdade de expressão num período de intolerância e de sujeição, de arbitrariedades, que ele condenava, havendo pago com a nobre existência a elevada condição de exaltar a beleza e a verdade.

Jesus, na sua ímpar condição, respeitou essa gloriosa conquista – a liberdade de expressão – não se permitindo afetar pelos inditosos comportamentos dos seus opositores contumazes... E fez-se vítima espontânea da crueldade e do primarismo daqueles que o temiam e, por consequência, o odiavam. Legou-nos, no entanto, no memorável discurso das bem-aventuranças as diretrizes éticas para a conquista da existência feliz através da aquisição da paz.

Em momento algum limitou, excruciou ou lutou contra o amadurecimento espiritual do ser humano. Sua doutrina, conforme previra, foi submetida ao talante dos poderes temporais e transformada em arma terrorista esmagadora que dominou as massas humanas por longos séculos de medo e de horror.

Há pouco mais de 200 anos, no entanto, a França e, logo depois, os Estados Unidos da América do Norte desfraldaram a bandeira dos direitos à liberdade, à igualdade e à fraternidade. E houve, desde então, avanços incontestes no comportamento dos povos, diversas vezes afogados no sangue de seus filhos em insurreições internas, em guerras internacionais, embora muitos interesses subalternos, para que lhes fossem preservados esses soberanos direitos.

Os temperamentos  primários, porém, ainda predominantes em expressivo número de Espíritos rebeldes, incapazes de compreender os valores humanos, têm imposto a sua terrível e covarde adaga em atos de terrorismo, tendo como pano de fundo as falsas e mórbidas confissões políticas e religiosas, que dizem abraçar, espalhando o caos, o terror, nos quais se comprazem.

A força das suas armas destrutivas jamais fixará os seus postulados hediondos, pois que sempre enfrentarão outros grupelhos mais nefastos e sanguinários que os vencerão. Após o triunfo de um bando de bárbaros por um tempo e ei-los desapeados da dominação por dissidentes não menos cruéis... Assim tem sido na História em todos os tempos.

Os mongóis, por exemplo, conquistaram a Índia, embelezaram-na, realizaram esplendorosas construções como o Taj Mahal, pelo imperador Shah Jahan, a fortaleza dita inexpugnável guardando a cidade e as minas de diamantes da Golconda, enquanto se matavam para manter-se  ou para conquistar o trono – filhos que assassinaram os pais ou os encarceraram, ou os enviaram para o exílio, como era hábito em outras nações – para depois sucumbirem sob o guante de outros voluptuosos dominadores mais hábeis e mais selvagens. Criaram armas terríveis, como os foguetes com lâminas aguçadas e os imensos canhões, terminando vencidos, após algumas glórias, pelas tropas inglesas que invadiram o país, submetendo-o por mais de um século ao Reino Unido, desde o reinado de Vitória.

Mais tarde, a grandeza moral do Mahatma Gandhi, com a sua misericordiosa não violência, libertou-a, restituindo-a aos seus primitivos filhos. Nada obstante, após o seu assassinato, a Índia continuou e permanece até hoje vítima do terrorismo político e religioso desenfreado, sem a bênção da paz, a dileta filha do amor.

Somente quando o amor instalar-se no coração do ser humano é que o terrorismo perverso desaparecerá e os cidadãos de todas as pátrias e de todas as confissões religiosas se permitirão a vera liberdade de pensamento, de palavra e de ação.

Com efeito, esse sublime sentimento não usará da glória da liberdade para denegrir ou punir pelo ridículo, porque respeitará todos os direitos que a Vida concede àqueles que gera e mantém.

Para que esse momento seja atingido, faz-se urgente que todos, mulheres e homens de bem, religiosos ou não, mantenham-se em harmonia, respeitem-se mutuamente e contribuam uns para a plenitude dos outros.

Infelizmente, porém, na atualidade, em que predominam o individualismo, o consumismo, o exibicionismo, espúrios descendentes do egoísmo, facções terroristas degeneradas disseminarão na Terra o crime e o pavor, até que seus comandantes e comandados sejam todos exilados para mundos inferiores, compatíveis com o seu estágio de evolução.

Merece, igualmente, neste grave momento, recordar a frase de Jesus: - “Eu venci o mundo” (João, 16:33) Ele não foi um vitorioso no cenário enganoso do mundo, mas o triunfador sobre todas as suas ainda perversas injunções.

O terrorismo passará como todas as vitórias da mentira, das paixões inferiores e da violência, porque só o amor é portador de perenidade. (Espírito Vianna de Carvalho-Psicografado por Divaldo Franco em 07/01/2015, quando ocorreu o primeiro ataque terrorista em Paris)

 

quarta-feira, 16 de setembro de 2015


             PACIÊNCIA NÃO SE PERDE

É muito comum ouvirmos esta exclamação: perdi a paciência! Como sabem, porém, que perderam a paciência? Por que, quando precisaram daquela virtude para se manterem calmos e serenos não a encontraram consigo, e, por isso, exasperaram-se, praticaram desatinos, proferiram impropérios e blasfêmias?

Só pelo fato de não encontrarem em seu patrimônio moral aquela virtude, alegam logo que a perderam. Como poderiam, porém, perder o que não possuíam?

Será melhor que os homens se convençam de que eles não têm paciência, que ainda não alcançaram essa preciosa qualidade que, no dizer do Mestre insigne, é a que nos assegura a posse de nós mesmos: “Pela paciência possuireis as vossas almas”. E  não pode haver maior conquista que a conquista própria. Já alguém disse, com justeza, que o homem que se conquistou a si mesmo vale mais que aquele que conquistou um reino. Os reinos são usurpados mediante o esforço e o sangue alheio, enquanto a posse de si mesmo só pode advir do esforço pessoal, da porfia enérgica e perseverante da individualidade própria, agindo sobre si mesma.

Todos esses, pois, que vivem constantemente alegando que perderam a paciência, confessam involuntariamente que jamais a tiveram. Paciência não se perde como qualquer objeto de uso ou como uma soma de dinheiro. Os que ainda não lograram alcançá-la, revelam essa falha precisamente no momento em que se exasperam, em que perdem a compostura e cometem despautérios. Quando, depois, o ânimo serena, o homem diz: perdi a paciência. Não perdeu coisa alguma; não tenho paciência é o que lhe compete reconhecer e confessar.

As virtudes, esta ou aquela, fazem parte de uma certa riqueza cujo valor imperecível Jesus encarece sobremaneira em seu Evangelho, sob estas sugestivas palavras: Granjeai aquela riqueza que o ladrão não rouba, a traça não rói, o tempo não consome e a morte não arrebata. Tais bens são, por sua natureza, inacessíveis às contingências da temporalidade, e não podem, portanto, desaparecer em hipótese alguma. Constituem propriedade inalienável e legitimamente adquirida pelo Espírito, que jamais a perderá.

Não é fácil adquirirmos certas virtudes, entre as quais se acha a paciência. A aquisição da paciência depende da aquisição de outras virtudes que lhe são correlatas, que se acham entrelaçadas com ela numa trama perfeita. A paciência – podemos dizer – é a filha da humildade e irmã da fortaleza, do valor moral. O orgulho é seu grande inimigo. A fraqueza de Espírito é outro obstáculo à conquista daquele precioso tesouro. Todos os movimentos intempestivos, todo ato violento, toda atitude colérica são oriundos da suscetibilidade do nosso amor próprio exagerado. A seu turno, os desesperos, as aflições incontidas, os estados de alucinação, os impropérios e blasfêmias são consequências  de fraqueza de ânimo ou debilidade moral. A calma e a serenidade de ânimo, em todas as emergências e conjunturas difíceis da vida, só podem ser conservadas mediante a fortaleza e a humildade de Espírito. É essa condição inalterável de ânimo que se denomina “paciência”. Ela é incontestavelmente atestado eloquente de alto padrão moral.

Naturalmente, em épocas de calmaria, quando tudo corre ao sabor dos nossos desejos, parece que possuímos aquele preciosíssimo bem. Os homens, quando dormem, são todos bons e inocentes. É exatamente nas horas aflitivas, nos dias de amargura, quando suportamos o batismo de fogo, que verificamos, então, a inexistência da sublime virtude conosco.

No mundo, observou o Mestre, tereis tribulações, mas tende bom ânimo: eu venci o mundo. Como ele venceu, cumpre a nós outros, como discípulos, imitá-lo, vencendo também. Cristo é o sublime modelo, é o grande paradigma. Não basta conhecer seus ensinamentos, é preciso praticá-los. Daqui a necessidade de fortificarmos nosso Espírito, retemperando-o nos embates cotidianos como o ferreiro que, na forja, tempera o aço até que o torna maleável e resistente.

A existência humana é urdida de vicissitudes e de imprevistos. Tais são as condições que haveremos de suportar como consequências do nosso passado. A cada dia a sua aflição – reza o Evangelho em sua empolgante sabedoria. Portanto, cumpre nos tornemos fortes para vencermos. Fomos dotados dos predicados para isso. Tudo que eu faço, asseverou o Mestre, vós também podeis fazer. Se nos é dado realizar os feitos maravilhosos do Cristo de Deus, por que permanecemos neste estado de miserabilidade moral? Simplesmente porque temos descurado a obra de nossa educação. A educação do Espírito é o problema universal.

A obra da salvação é obra de educação, nunca será demais afirmar esta tese.

A religião que o momento atual da Humanidade reclama é aquela que apela para a educação sob todos os aspectos: educação física, educação intelectual, educação cívica, educação mental, educação moral.

A fé que há de salvar o mundo é aquela que resulta desta sentença: Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito. (Vinicius-Em Torno do Mestre)

 
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                 Kardec e os espíritas dissidentes

Na viagem que Allan Kardec fez pela França, em 1861, entre outras coisas que ouviu, foi a crítica de não lutar para trazer de volta pessoas que se afastavam dele, do Espiritismo.
Ele admite em público: "- Jamais dei um único passo nesse sentido e aqui estão os motivos de minha indiferença". Uma lista implacável, especialmente para alguém que rejeitava o uso do adjetivo "imperdoável": os que se aproximavam dele o faziam por conveniência, atraídos pelos princípios da doutrina, e não por sua companhia; os que se afastavam dele também o faziam por conveniência, pela descoberta da falta de afinidades em determinadas questões.
"Por que então eu iria contrariá-los, impondo-me a eles? Parece-me mais conveniente deixá-los em paz".
"Para um que parte, há mil que chegam. Julgo um dever dedicar-me, acima de tudo, a estes, e é isso que faço".
Orgulho? Desprezo pelo próximo? Kardec lançou as perguntas e deu a resposta: - "Não, honestamente não. Não desprezo ninguém. Lamento os que agem mal e isso é tudo".
"Coloco em primeira instância oferecer o consolo aos que sofrem, erguer a coragem aos decaídos, arrancar um homem de suas paixões, do desespero, do suicídio, detê-lo talvez no limiar do crime! Não vale mais isto do que os lambris doirados?"
"Guardo milhares de cartas que, para mim, mais valem do que todas as honrarias da Terra e que olho como verdadeiros títulos de nobreza. Assim, pois, não vos espantei se deixo partir aqueles que viram as costas".